Tecnologia Científica

Poli e HC desenvolvem “almofadas” hospitalares para tratar pacientes graves de covid-19
Ajustados ao posicionamento do corpo, os chamados coxins ajudam na recuperaça£o da doena§a, na prevena§a£o de lesões ortopanãdicas e ulceraça£o da pele
Por Ivanir Ferreira - 28/05/2020


As “almofadas”, conhecidas como coxins, minimizam a evolução de processos
inflamata³rios pulmonares, evitam lesões ortopanãdicas e ulcerações de pele.
Os testes com os prota³tipos começam no dia 20 de maio
no Hospital das Cla­nicas osFotomontagem: Vinicius Vieira

A ação conjunta e volunta¡ria de médicos, engenheiros, pesquisadores e empresa¡rios tem levado a USP ao desenvolvimento de inúmeros projetos de aplicação médica para o combate ao novo coronava­rus. O mais recente deles envolve a fabricação de dispositivos anata´micos (coxins) osuma espanãcie de “almofada” ospara acomodar pacientes graves com covid-19 que permanecem por longos períodos internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Colocados embaixo do paciente em posição pronada (decaºbito ventral, ou seja, com a barriga para baixo), os dispositivos funcionam como amortecedores das proeminaªncias do corpo que ficam em contato com a cama. Além de ajudar na recuperação da doena§a, os coxins minimizam a evolução de processos inflamata³rios pulmonares e evitam lesões ortopanãdicas e ulcerações de pele, conta ao Jornal da USP a médica Kelly Cristina Stefani, do Hospital das Cla­nicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e uma das responsa¡veis pela interface da equipe do HC com a do professor Douglas Gouvaªa, do Laborata³rio de Processos Cera¢micos da Escola Politécnica (Poli) da USP, que coordenou o projeto dos dispositivos médicos.

Os coxins anata´micos funcionam como uma almofada e são indicados para tratamento de pacientes de covid-19, com evolução de insuficiência respirata³ria grave osFoto:  equipe de desenvolvimento FOM
 
A demanda pela fabricação dos produtos partiu de médicos do HC, que trabalham na linha de frente com infectados com o novo coronava­rus. Segundo a médica, o estoque habitual de coxins para pronação era pequeno nos hospitais e reservado principalmente aos pacientes operados na posição ventral, como cirurgias de coluna, pla¡stica e alguns tipos de neurocirurgias. No entanto, a posição pronada tem sido um recurso terapaªutico indicado também para tratamento de infectados pela covid-19, com insuficiência respirata³ria, e que evoluem para esta¡gios mais graves da doena§a, necessitando de hospitalização, suporte de oxigaªnio, intubação traqueal e a ventilação meca¢nica com ajuda de aparelhos, relata Kelly.

Segundo a professora Maria JoséCarmona, da FM e coordenadora de UTIs do HC, os coxins disponí­veis nos hospitais foram suficientes para atendimento de poucos casos de covid-19 que necessitaram de pronação. Com o mercado desabastecido e poucos fabricantes nacionais preparados para produzir e entregar coxins na velocidade exigida, os médicos do HC recorreram a s parcerias paºblico-privadas da Poli, relata. Maria Josécoordena o Centro de Inovações Tecnola³gicas do Instituto Central (Citic-Inova HC) do Hospital das Cla­nicas, que estabeleceu parceria com a Poli.

Os coxins disponí­veis no mercado brasileiro, geralmente, são “confeccionados com ganãis polimanãricos e visco ela¡sticos. Sa£o feitos de materiais importados, caros e de pouca adequação a  anatomia do corpo humano, principalmente aos contornos da face”, conta Gouvaªa ao Jornal da USP. Já os que estãosendo produzidos pela Poli/HC são mais apropriados para uso hospitalar e caminham em duas frentes: a primeira, em parceria com a FOM que tem uma linha de produtos de uso domanãstico (travesseiros, almofadas, encostos de pescoa§o, pufs, etc), feitos em tecidos preenchidos com microesferas de poliestireno expandido.

A ideia foi “fazer adaptações nesses produtos e transforma¡-los em coxins que se acoplassem melhor a  anatomia do corpo humano e que atendessem a s exigaªncias técnicas hospitalares”, diz o pesquisador. Os testes com esses modelos já foram realizados e o projeto de fabricação em escala já estãoem execução pela equipe da FOM.

A segunda frente do projeto trabalha com espumas de poliuretano, cujos parceiros são a DOW , a Duoflex  e a F.A. Colchaµes. Os prota³tipos iniciais dessa parceria já foram fabricados e estãosendo testados no HC desde o dia 20 de maio.

Os novos produtos com microesferas de poliestireno expandido são genuinamente brasileiros, tem custo mais baixo de fabricação (custam três vezes menos que o importado), são lava¡veis, possuem costuras impermea¡veis e são de fa¡cil higienização, diz o pesquisador. Inicialmente, os coxins fabricados sera£o doados ao HC pelas empresas parceiras, mas em um futuro pra³ximo devera£o ser comercializados para atender a  rede privada de hospitais.

A parceria da Poli, HC e empresas se deu pelo acordo entre o Cetic-HC e o Inova Poli, coordenado pelo professor Vanderley Moacyr John. O projeto que deu origem aos coxins hospitalares foi Coxins de Pronação de Pacientes de Covid-19 com Insuficiaªncia Respirata³ria Grave.

 

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